IPEA: NÚMERO DE NEGROS
ULTRAPASSA O DE BRANCOS PELA PRIMEIRA VEZ No BRASIL
Estudo diz que Brasil tem cerca de 97 milhões de pessoas se declararam
negras (pretas ou pardas),contra 91 milhões de brancosO número de pessoas que
se declararam negras no Censo 2010 ultrapassou pela primeira vez a população
branca. É o que aponta um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira. O levantamento da
instituição mostra que a situação se inverteu na última década, quando o número
de brasileiros negros teve um crescimento de 2,5%. Hoje, o Brasil tem cerca de
97 milhões de pessoas se declararam negras, ou seja, pretas ou pardas, contra
91 milhões de brancosEm cada 3 assassinatos no Brasil, 2 são de negros
Jovens negros têm novas perspectivas de futuro
País de extremos, Brasil tem 190.755.799 habitantes
De acordo com o IPEA, a inversão no indicador pode ser decorrente da fecundidade mais elevada encontrada entre as mulheres negras. Segundo o estudo, acompanhando a tendência nacional, a taxa de fecundidade total (número médio de filhos tidos por mulher ao final da vida reprodutiva) decresceu entre 1999 e 2009, porém entre os negros a queda foi menos acentuada. No período, a fecundidade da população negra passou de 2,7 filhos para 2,1, enquanto na branca caiu de 2,2 para 1,6.
Os diferenciais de fecundidade entre mulheres brancas e negras não são homogêneos dentro dos vários grupos etários. O estudo mostra que, em 2009, a maior variação foi encontrada entre as mulheres de 15 a 19 anos. Segundo o Ipea, essa diferença cresceu ao longo do tempo. Em 1999, a fecundidade das adolescentes negras era 38,9% mais elevada que a das brancas. Em 2009, esta diferença foi de aproximadamente 65%. Isto significa que, embora a fecundidade dos dois grupos tenha diminuído, esta redução foi mais acentuada entre as mulheres brancas.
Além disso, o IPEA acredita que o avanço no número da população negra, deve-se também, por um possível aumento de pessoas que se declararam pardas no Censo de 2010.
ENVELHECIMENTO
Quando comparada as populações negra e branca, o levantamento aponta que o envelhecimento da população branca está mais avançado do que o da população negra. Entre 1999 e 2009, a população branca apresentou uma redução no seu contingente menor de 20 anos de 4,2 milhões de pessoas.
Por outro lado, na população negra, a queda foi apenas entre a população menor de cinco anos e a redução foi de 402 mil pessoas. Ente os idosos, a população idosa negra em 3,6 milhões e a branca, em 3,2 milhões.
FAMÍLIAS
Segundo o estudo, diferenças também foram observadas na configuração dos arranjos familiares e no papel social da mulher. Houve um crescimento expressivo no número de mulheres chefiando domicílios. A proporção foi maior entre as mulheres negras, principalmente no caso de arranjos com filhos residentes. No entanto, o aumento foi mais expressivo entre as brancas. Os pesquisadores do Ipea concluem que esses fatores provocaram algumas mudanças nas características dos domicílios brasileiros, alterando as relações tradicionais.
A contribuição das mulheres brancas no total da renda das famílias foi de 36,1% e a das negras, de 28,5%. Os dados do Censo também revelam que as mulheres negras se envolviam mais nas atividades domésticas, mesmo na condição de ocupadas, do que as brancas, o que sugere uma relação de gênero mais desigual entre as negras.
FONTE: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/ipea+numero+de+negros+ultrapassa+o+de+brancos+pela+primeira+vez+no+brasil/n1596948659586.html
JOVENS NEGROS MORREM MAIS POR VIOLÊNCIA DO QUE BRANCOS, DIZ IPEA
Há mais mulheres negras morando sozinhas com filhos do que brancas.
Levantamento utilizou dados do IBGE e do Ministério da Saúde. Do G1, em São Paulo
O levantamento "Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira", divulgado nesta quinta-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que a população que se autodenomina negra é majoritária no Brasil, mas que também é mais jovem, tem mais filhos e está mais exposta à mortalidade por violência do que a população branca. A pesquisa utilizou dados de diversos levantamentos anteriores, como o Censo 2010 do IBGE, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009 do IBGE e o Sistema de Informação sobre a Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde de 2001 e 2007.
Segundo o Ipea, dentre os fatores que fizeram a população negra chegar a 97 milhões de negros, conforme o Censo 2010 do IBGE, em relação a 91 milhões de brancos, estão a maior fecundidade entre os negros e o maior envelhecimento dentre os brancos, provocando o aumento das mortes dentre os brancos idosos. A proporção de negros com 60 anos ou mais no total da sua população é de 9,7%, enquanto que a de brancos chega a 13,1%.
A pesquisa apontou que o percentual de negros mortos, com idades entre 15 e 29 anos, é maior do que o de brancos. A faixa etária representa quase 10% dentre as mortes anuais de homens negros, enquanto que esse número não chega a 4% para os brancos. Os pesquisadores do Ipea entenderam que os jovens negros morrem mais por estarem mais expostos à violência. Isso porque “causas externas”, como assassinatos e acidentes, é o segundo motivo que mais mata pessoas do sexo masculino entre os negros, conforme dados do SIM de 2007.
Nas duas raças, a principal causa de óbitos são as doenças do aparelho circulatório – cerca de 28,5% dentre as mortes do sexo masculino na população branca e 25%, na negra. As causas externas - assassinatos e acidentes - estão em segundo lugar entre o que mais mata homens negros, representando 24,3% do total dos óbitos. Entre os homens brancos, representa 14,1% das mortes e vem em terceiro lugar. Entre os homens brancos, colocam-se em segundo lugar as mortes causadas por neoplasias (17,3%), que são a terceira causa de óbito entre a população negra.
Quando o Ipea analisou separadamente as causas externas que provocam as mortes da população, percebeu que os homicídios correspondem a aproximadamente 50% dos óbitos entre os homens na população negra, tanto nos levantamentos do Ministério da Saúde de 2001 quanto de 2007. Entre a população branca, apesar de a violência ser a principal causa das mortes de homens em 2001 (35,3%), o número caiu em 2007 para cerca de 30%, sendo superado pelos acidentes de trânsito (cerca de 35%).
Estrutura familiar
O Ipea apontou que, conforme dados do PNAD de 2009, 63,8% das famílias, independentemente da raça, são formadas por casais com filhos. Dentre as famílias formadas por pessoas brancas, 12,5% são de casais sem filhos e 4,6%, de mulheres sozinhas. Avaliando-se as famílias negras, os índices ficam em 9,5% e 3,7%, respectivamente.
E há mais mulheres sozinhas morando com os filhos dentre os negros: elas representam 17,7% do total da estrutura familiar de sua raça no país. Dentre as famílias brancas, elas são 14,3%.
A análise percebeu aumento da contribuição das mulheres nas rendas das famílias, o que ocorreu nos dois grupos populacionais, conforme comparação entre os dados do PNAD de 1999 e 2009. Entre as brancas, essa participação passou de 32,3% para 36,1% e entre as negras, o aumento foi de 24,3% para 28,5%.
Também aumentou a proporção de mulheres negras ocupadas que se dedicavam aos afazeres domésticos em 2009 – elas representavam 91% do total. Um número semelhante de mulheres brancas que trabalham cuidam do lar: são 88,1%. Dentre os homens, a situação se inverte. São os brancos que ajudam mais no trabalho de casa (50,6%), contra 48,5% dos maridos negros.
Envelhecimento
Conforme o Ipea, a população de negros com 60 anos ou mais no total da população representa 9,7% dentre os negros e 13,1% entre os brancos. Na população idosa negra, a cada 100 mulheres, já 88 homens. Já entre os brancos, a relação apontada foi de 75 homens para cada 100 mulheres.
Apesar de não estar envelhecendo tão rapidamente quanto os brancos, os negros conseguiram aumentar sua participação no recebimento monetário de seguridade social. Em 2009, pelo menos 77,3% da população negra tinha direito a benefício – dentre os brancos, a abrangência é de 78,3%, chegando a um total de 16,6 milhões de idosos.
ANALFABETISMO ENTRE NEGROS É O DOBRO
A taxa de analfabetismo das pessoas negras no Brasil segue sendo maior que o dobro do que ocorre entre as pessoas brancas, correspondendo a 71,6% do 6,8 milhões considerados analfabetos. Esse é um dos indicadores constantes do Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil – 2009/2010.
Veja os outros principais indicadores
1.Afrodescendentes têm menor chance de acesso ao sistema de saúde. Taxa de não cobertura ao sistema chega a quase 27% (brancos, no entorno de 14%)
2.Entre 1986 e 2008 a Taxa de Fecundidade Total (TFT) de mulheres negras (48,8%) cai de forma mais acelerada que das mulheres brancas (36,7%), mas as negras se sujeitam com mais intensidade às laqueaduras. Quase 30% em idade fértil estão esterilizadas; brancas, 21,7%)
3.Mulheres negras têm menor acesso aos exames ginecológicos preventivos: 37,5% nunca fizeram exame de mamas (brancas, 22,9%), 40,9% nunca fizeram mamografia (brancas, 26,4%), 15,5% jamais fizeram o Papanicolau (brancas, 13,2%)
4.Cresce o peso relativo de Aids junto à população negra, especialmente no sexo feminino. Desde 2006, a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes das negras é superior à das brancas. Letalidade da Aids é maior entre os negros
5.A população negra é mais acometida pela infecção e morte por sífilis. No ano de 2008, do total de bebês infectados por sífilis congênita, 54,2% eram negros.
6.Mães de crianças negras têm menor acesso ao exame pré-natal (somente 42,6% fizeram mais de sete exames; no caso das brancas, 71%) e recebem atendimento menos cuidadoso no sistema de saúde, sugerindo a presença do racismo institucional. Por exemplo, mães que fizeram exame ginecológico até dois meses depois do parto: 46,0%, entre as gestantes brancas; 34,7%, entre as gestantes pretas & pardas.
7. Mães de crianças negras têm maior probabilidade de falecer por mortalidade materna. Morrem por dia cerca de 2,6 mulheres afrodescendentes por causas maternas (mulheres brancas, 1,5 por dia)
8.Negros são os mais beneficiados pelo Programa Bolsa-Família. Uma em cada quatro famílias chefiadas por afrodescendentes recebia o PBF (brancos, 9,8%). Peso deste Programa junto a esta população tem maior efeito no alívio das situações de Insegurança Alimentar extremadas. Por exemplo, o PBF permitiu a elevação do consumo de arroz por parte dos pretos & pardos em 68,5%, ao passo que entre os brancos o aumento foi de 31,5%. No caso do feijão ocorreu elevação no consumo pelos pretos & pardos de 68,0%, frente a 32,0% no aumento do consumo entre os brancos
9.Crianças e adolescentes afrodescendentes entre 4 e 17 anos são mais dependentes da merenda escolar para sobreviver: 60,6% são usuários deste tipo de recurso (brancas: 48,1%)
10.População negra tem menor probabilidade de acesso à Previdência Social. Em 2008, peso relativo dos trabalhadores pretos & pardos com acesso ao sistema era dez pontos percentuais menor em relação aos brancos. No caso das mulheres negras 20% das seguradas o eram na condição de Segurada Especial (entre as mulheres brancas, 10%)
11.Estudo especial da Unicamp feito para o Relatório mostra que negros tem menor esperança de sobrevida no conjunto das faixas de idade selecionadas. Fator Previdenciário aprofunda desigualdades raciais
12.Relatório revela que a Constituição de 1988 não é cumprida quando se trata do acesso da população negra ao sistema escolar. Descumprimento é generalizado. Entre as crianças negras entre 11 e 14 anos nem metade estudava na série esperada.
13.Crianças e adolescentes negros têm pior desempenho escolar e sofrem com condições de ensino mais precárias. Taxa de crianças negras estudando em escolas públicas é de 90% (brancas 80%). Mais de um terço das escolas públicas frequentadas por alunos negros tem ou nenhuma ou pouca condição de adequação de infraestrutura. Nem 20% têm condições de segurança boa ou muito boa
14.Jovens afrodescendentes são mais expostos ao abandono escolar e à frequência à escola em idade superior à desejada. Um em cada quatro jovens negros que fizeram o ENEM tiveram relatos de ter sofrido discriminação racial
15.Vinte anos depois da Constituição de 1988, a taxa de analfabetismo das pessoas negras segue sendo mais que o dobro do que a das pessoas brancas. 6,8 milhões de pessoas em todo país que frequentam ou tinham frequentado a escola são analfabetos, os pretos & pardos correspondem a 71,6% deste total.
16.Crianças afrodescendentes com idade inferior a 6 anos têm mais dificuldade para ingressar nas creches e no sistema regular de ensino. 84,5% das crianças negras de até 3 anos não frequentavam creches; 7,5% das crianças negras de 6 anos estavam fora de qualquer tipo de escola e apenas 41,6% estavam no sistema de ensino seriado
17.Réus vencem causas nos tribunais com maior frequência diante dos casos de denúncia de racismo. 66,9% nos Superiores Tribunais de Justiça. 58,5% nos Tribunais Regionais do Trabalho de 2ª instância
18.O Relatório Anual das Desigualdades Raciais traz, ainda, dados inéditos sobre desigualdades raciais contra pessoas afrodescendentes nos EUA, Cuba, Equador, Colômbia, Uruguai e Comunidade Europeia.
Episódios racistas ainda dominam a cena brasileira
Denise Porfírio
Ataque a dormitório de estudantes africanos motivou a criação do Dia da Igualdade Racial na Universidade de Brasília.
A luta pelo fim da discriminação racial no Brasil já produziu muitos avanços, mas o artigo 3 da Constituição Federal, que garantiria o bem estar de todos, independentemente de sexo, cor, idade, credo ou orientação sexual, está longe de ser integralmente cumprido. Mesmo sob pena de reclusão pela prática de um crime inafiançável, a discriminação racial continua a contribuir com tristes episódios para a história do negro. Confira aqui alguns episódios negativos da luta contra o racismo no Brasil:
1838.O governo do Estado de Sergipe proíbe portadores de moléstias contagiosas e africanos, escravos ou não, de frequentarem escolas públicas.
1854. Decreto proíbe o negro de aprender a ler e escrever.
1890. Decreto sobre imigração veta o ingresso de africanos e asiáticos no Brasil. Detalhe: a imigração dos europeus era liberada
Acontece “O Quebra de
1969.O governo do general Emílio Garrastazu Médici proíbe a publicação de notícias sobre o Movimento Negro e a discriminação racial no Brasil Saiba mais.
2007.Desavenças por espaço no alojamento da Casa do Estudante da Universidade de Brasília motivaram um ataque incendiário a três dormitórios ocupados por estudantes de origem africana, 28 de março. Em razão do ocorrido, o então reitor Timothy Mulholland declarou o dia 28 de março como o Dia da Igualdade Racial na Universidade de Brasília. Saiba mais.
Maio de 2010. “Quem quer saber o que é ser negro, seja negro por apenas 48 horas”. Frase da primeira juíza negra do Brasil, Luislinda Valois, após ser identificada como camareira da atriz Natália do Vale por um site que cobria as gravações do último capítulo da novela Viver a Vida (Rede Globo). A magistrada baiana era homenageada, e havia tirado fotos com vários artistas, incluindo Natália do Vale. Saiba mais.
Outubro de 2010. Líder de religião de matriz africana é torturada por PMs no Assentamento D. Hélder Câmara,
Janeiro de 2011. Menino de 10 anos é chamado de “negrinho sujo e fedido” por seguranças do grupo Pão de Açúcar,
Março de 2011. Líder da banda baiana Psirico, Márcio Vítor protesta contra a discriminação racial em plena festa de Carnaval. O músico teria sofrido ataques à sua etnia (“preto favelado”) e à sua sexualidade (“veado”). O cantor não registrou queixa, mas estuda a abertura de um processo. O acusado, o empresário Luiz Antonio de Souza Santos, alega inocência Saiba mais.